A proclamação do regime republicano brasileiro aconteceu em decorrência
da crise do poder imperial, ascensão de novas correntes de pensamento
político e interesse de determinados grupos sociais. Aos fins do Segundo
Reinado, o governo de Dom Pedro II enfrentou esse quadro de tensões
responsável pela queda da monarquia.
Mesmo buscando uma posição política conciliadora, Dom Pedro II não
conseguia intermediar os interesses confiantes dos diferentes grupos
sociais do país. A questão da escravidão era um dos maiores campos dessa
tensão político-ideológica. Os intelectuais, militares e os órgãos de
imprensa defendiam a abolição como uma necessidade primordial dentro do
processo de modernização sócio-econômica do país.
Por um lado, os fazendeiros da oligarquia nordestina e sulista faziam
oposição ao fim da escravidão e, no máximo, admitiam-na com a concessão
de indenizações do governo. De outro, os cafeicultores do Oeste Paulista
apoiavam a implementação da mão-de-obra assalariada no Brasil. Durante
todo o Segundo Reinado essa questão se arrastou e ficou presa ao decreto
de leis de pouco efeito prático.
Os abolicionistas, que associavam a escravidão ao atraso do país,
acabavam por também colocar o regime monárquico junto a essa mesma
idéia. É nesse contexto que as idéias republicanas ganham espaço. O
Brasil, única nação americana monarquista, se transformou num palco de
uma grande campanha republicana apoiada por diferentes setores da
sociedade. A partir disso, observamos a perda das bases políticas que
apoiavam Dom Pedro II. Até mesmo os setores mais conservadores, com a
abrupta aprovação da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, começaram
a ver a monarquia como um regime incapaz de atender os seus interesses.
A Igreja, setor de grande influência ideológica, também passou a
engrossar a fila daqueles que maldiziam o poder imperial. Tudo isso
devido à crise nas relações entre os clérigos e Dom Pedro II. Naquela
época, de acordo com a constituição do país, a Igreja era subordinada ao
Estado por meio do regime de padroado. Nesse regime, o imperador tinha o
poder de nomear padres bispos e cardeais.
Em 1864, o Vaticano resolveu proibir a existência de párocos ligados à
maçonaria. Valendo-se do regime do padroado, Dom Pedro II, que era
maçom, desacatou a ordem papal e repudiou aqueles que seguiram as ordens
do papa Pio IX. Mesmo anulando as punições dirigidas aos bispos fiéis
ao papa, D. Pedro II foi declarado autoritário e infiel ao cristianismo.
Ao mesmo tempo, alguns representantes do poder militar do Brasil
começaram a ganhar certa relevância política. Com a vitória na Guerra do
Paraguai, o oficialato alcançou prestígio e muitos jovens de classes
médias e populares passaram a ingressar no Exército. As instituições
militares dessa época também foram influenciadas pelo pensamento
positivista, que defendia a “ordem” como caminho indispensável para o
“progresso”. Desta forma, os oficiais – que já se julgavam uma classe
desprestigiada pelo poder imperial – compreendiam que o rigor e a
organização dos militares poderiam ser úteis na resolução dos problemas
do país.
Os militares passaram a se opor ferrenhamente a Dom Pedro II, chegando a
repudiar ordens imperiais e realizar críticas ao governo nos meios de
comunicação. Em 1873, foram criados o Partido Republicano e o Partido
Republicano Paulista. Aproximando-se dos militares insatisfeitos, os
republicanos organizaram o golpe de Estado contra a monarquia.
Nos fins de 1889, sob fortes suspeitas que Dom Pedro II iria retaliar os
militares, o marechal Deodoro da Fonseca mobilizou suas tropas, que
promoveram um cerco aos ministros imperiais e exigiram a deposição do
rei. Em 15 de novembro daquele ano, o republicano José do Patrocínio
oficializou a proclamação da República.
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