sábado, 19 de maio de 2012


Avaliar professores: tarefa tão difícil quanto fundamental



Alexandre Ventura: 'A avaliação precisa ter como foco o desenvolvimento do professor'
'Defendo o afastamento de alguns profissionais que, por uma série de fatores, não podem ser professores. Insistir em ter essas pessoas na sala de aula é prejudicar o desenvolvimento do país' – Alexandre Ventura
Diversos estudos comprovam que um bom professor é a variável mais importante na melhoria do desempenho dos estudantes. Avaliar os docentes deveria, portanto, ser prioridade para governos e gestores.
No Brasil, contudo, um sistema efetivo de avaliação ainda engatinha e uma prova nacional de seleção de professores, anunciada em 2009, nem sequer saiu do papel. Uma das maiores barreiras à criação de tal sistema de qualidade são justamente os professores. "As pessoas não gostam de ser avaliadas. Nós, por natureza, gostamos de avaliar os outros, mas quando somos o objeto dessa avaliação reagimos mal e resistimos", diz Alexandre Ventura, pesquisador português responsável pela implementação do sistema de avaliação de docentes em Portugal. Ventura, que está no Brasil para participar do maior evento de educação da América Latina, oEducar/Educador, que será aberto nesta quarta-feira, em São Paulo, concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA.

Existe resistência por parte dos docentes a avaliações? As resistências dos professores a sua avaliação não são muito diferentes da resistência de outros profissionais. As pessoas não gostam de ser avaliadas. Nós, por natureza, gostamos de avaliar os outros, mas quando somos o objeto dessa avaliação reagimos mal e resistimos. Procuramos frear essa tentativa de controle que é a avaliação. Também não costumamos ter muita confiança no resultado dessas avaliações. Temos medo das consequências: hierarquização, redução da remuneração ou demissão. Não acreditamos que os resultados correspondam àquilo que desejamos. Todos nós temos uma autoimagem e ela geralmente é positiva. Então, de forma ostensiva ou dissumulada, as pessoas reagem às avaliações. Na teoria, todos são favoráveis a avaliar, mas quando ela se concretiza – ou tem chances de se contretizar –, existe uma reação contrária. Quando falamos de organizações sindicais, as coisas se potencializam.

É muito difícil avaliar o professor? Sim. Estamos falando da atuação de um profissional extremamente complexo, que precisa ter domínio científico do conteúdo que leciona, deter ferramentas pedagógicas para transmitir esse conhecimento e ainda manter um bom relacionamento com os estudantes. As pesquisas ao longo dos últimos 40 anos nos mostram que medir tudo isso em uma avaliação é trabalhoso e delicado. É preciso tempo, dinheiro e planejamento para levar a cabo uma análise competente. 

A corrente que defende a avaliação dos docentes é recente? Esse é um assunto que vem sendo discutido há muito tempo, principalmente nos Estados Unidos. Essa corrente nasce quando pesquisas mostram que o professor é a variável mais significativa no sucesso ou insucesso dos alunos. Há pelos três décadas, sabe-se que um professor bom ou muito bom influencia de forma significativa o aprendizado. A partir daí, compreende-se que a avaliação do professor é de extrema importância. Com a globalização e a circulação mais rápida de conhecimento, essa ideia se espalha com mais rapidez. As avaliações internacionais praticadas nos últimos anos também contribuíram para a disseminação da ideia de que é preciso avaliar o professor. Nenhum país gosta de ficar mal na fotografia e muitos perceberam que investir no professor é a chave para o progresso.

Como são feitas as avaliações ao redor do mundo? Ainda existe uma heterogeneidade entre os modelos. Na França, a avaliação é feita pela equipe pedagógica da escola. Na Inglaterra, o responsável é o diretor da escola, e avaliadores externos também são treinados para a avaliação. Em Portugual, são os próprios professores que avaliam uns aos outros. Não existe um consenso sobre qual modelo funciona melhor. Eu diria que um modelo bastante eficaz seria o que misturasse avaliadores externos e internos. Mas trata-se de uma alternativa onerosa e pouco utilizada.

Como desenvolver uma avaliação eficaz? O aspecto essencial é que ela seja justa e eficaz. É preciso transparência nos objetivos para que isso desperte confiança por parte dos professores. É preciso também que ela não se baseie em um único aspecto do desempenho do professor. Isso costuma ser tentador para muitas escolas: avaliar apenas o plano de aula dos docentes ou apenas a maneira como eles se portam na sala de aula. Isso só não basta. Por outro lado, corre-se o risco de avaliar muitas coisas e, ao final das contas, não se avaliar nada. É preciso ter a medida certa ou o caldo desanda. Por fim, é preciso treinar bem os avaliadores, sejam eles agentes externos ou internos da escola.

O que fazer com os resultados dessas avaliações? Em primeiro lugar, só faz sentido levar a cabo a avaliação de desempenho dos professores se ela vier para enriquecer a prática docente e, consequentemente, a educação. Fazer da avaliação um fim em si mesma é prejudicial. Neste caso, é melhor não ter avaliação alguma. O objetivo essencial é encorajar a melhoria de professores e escolas. Aqueles que são bons, precisam ser ainda melhores; aqueles que estão aquém do desejado, precisam encontrar suporte para melhorar suas práticas. Em última instância, defendo o afastamento de alguns profissionais que, por uma série de fatores, não podem ser professores. Insistir em ter essas pessoas na sala de aula é prejudicar o desenvolvimento do país.

Uma prática comum nas escolas é a autoavaliação. Ela é eficaz? A autoavaliação é indispensável. Fazer com que escolas e professores se olhem no espelho e reflitam sobre suas práticas é um ótimo exercício. Ela ajuda também a desenvolver uma cultura de avaliação, e isso ajuda na hora da realização de uma avaliação externa. Isso não quer dizer, porém, que apenas a autoavaliação baste.

É possível afirmar que se os estudantes de um país vão mal em avaliações nacionais ou internacionais seus professores são ruins? É extremamente perigoso estabelecer uma relação direta entre o resultado dos alunos e a qualidade dos professores. A competência dos docentes certamente é um fator que propicia um melhor aprendizado, mas ele precisa estar orquestrado com outras variáveis. Não é possível reduzir o sucesso ou insucesso de um sistema a apenas um fator de uma engrenagem bastante complexa.

Veja

Investimento na primeira infância é prioridade do MEC, afirma Mercadante



O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu o investimento em ações voltadas à primeira infância para cumprir o objetivo da alfabetização na idade certa. Ele destacou que a grande prioridade de sua gestão no ministério é a articulação de um grande pacto nesse sentido. Para o ministro, investir em ações voltadas à primeira infância vai ao encontro dessa meta.
“Uma política de construção e financiamento de creches é assistência social, mas o fator preponderante é educacional, com foco na educação da criança em momento importante de seu desenvolvimento, com estímulos pedagógicos e sensoriais que são fundamentais para o desenvolvimento de toda a sua vida adulta”, explicou Mercadante.
Ele abriu nesta quarta-feira, 16, o painel Desenvolvimento humano: o binômio criativo – Educação de qualidade e emprego, parte do XXIV Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae). O evento acontece no Rio de Janeiro e anualmente reúne especialistas em torno de temas e propostas para o futuro do desenvolvimento brasileiro.

O enfrentamento da extrema pobreza, segundo o ministro, passa pela atenção especial às crianças. Estudos mostram que crianças que passaram por creches têm melhores oportunidades de alfabetização e de sucesso ao longo da vida escolar. A meta do governo é chegar a 6 mil novos estabelecimentos de creche e pré-escola até 2014. O programa Brasil Carinhoso, lançado na última segunda-feira, 14, amplia o conjunto de ações com esse objetivo.

O desafio tecnológico – A democratização da tecnologia é outro fator importante apontado por Mercadante para o desenvolvimento nacional. Além de ações como o acesso ao ensino técnico e emprego, fortalecimento da formação em matemática, física, biologia e química e intercâmbio acadêmico com outros países, o avanço tecnológico é potencial aliado, segundo o ministro.

“Somos o terceiro país que mais vende computadores no mundo e a escola tem que ajudar a preparar o ambiente para que isso seja apoio à qualidade do ensino”, defendeu.

Para ele, o professor tem papel estratégico e é preciso prepará-lo para atender os alunos que chegam à escola com essa nova cultura. “Não se pode criar um apartheid de educação digital no Brasil, entre as pessoas que terão acesso às ferramentas por outros meios e aqueles que dependerão apenas da escola para isso. E é essencial que o professor esteja seguro para conduzir esse processo”, concluiu.

MEC

Programa do MEC para alfabetizar alunos até os 8 anos vai investir na formação de professores



Deve entrar em funcionamento, no ano que vem, o Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), do Ministério da Educação (MEC). Segundo o secretário de Educação Básica da pasta, Cesar Callegari, na próxima semana o ministério enviará uma correspondência a todos os prefeitos e governadores explicando os detalhes do programa, que pretende garantir a alfabetização de todos os alunos até os 8 anos de idade tendo como principal foco a melhora na formação dos professores que lecionam nos três primeiros anos do ensino fundamental.

“O Ministério da Educação está decidido a trabalhar de maneira colaborativa com cada um dos municípios e estados brasileiros para que nós possamos realizar essa tarefa, absolutamente indispensável para o sistema educacional brasileiro”, ressaltou Callegari para uma plateia composta de secretários municipais de todo país no Fórum Nacional Extraordinário dos Dirigentes Municipais de Educação.
O foco da iniciativa é melhorar a formação dos 244 mil professores que lecionam no três primeiros anos do ensino fundamental. Entre as ações previstas está a distribuição de bolsas de incentivo para que os professores participem de cursos de capacitação fora do horário de trabalho.“É absolutamente indispensável valorizar esses profissionais. E a melhor maneira de valorizar esses profissionais é proporcionando um lugar de destaque na suas carreiras e um processo de formação continuada”, disse o secretário.
Callegari espera que todos os gestores municipais e estaduais enviem as demandas necessárias para a execução do programa até julho para que os recursos necessários sejam incluídos no orçamento de 2013.

Agência Brasil